Halo
Beyoncé
Composição: Bogart E. Kidd / Beyonce Knowles / Ryan Tedder
Remember those walls I built
Well, baby they're tumbling down
And they didn't even put up a fight
They didn't even make up a sound
I found a way to let you in
But I never really had a doubt
Standing in the light of your halo
I got my angel now
It's like I've been awakened
Every rule I had you breaking
It's the risk that I'm taking
I ain't never gonna shut you out
Everywhere I'm looking now
I'm surrounded by your embrace
Baby I can see your halo
You know you're my saving grace
You're everything I need and more
It's written all over your face
Baby I can feel your halo
Pray it won't fade away
Do your halo halo halo
I can see your halo halo halo
Do your halo halo halo
I can see your halo halo halo
Hit me like a ray of sun
Burning through my darkest night
You're the only one that I want
Think I'm addicted to your light
I swore I'd never fall again
But this don't even feel like falling
Gravity can't forget
To pull me back to the ground again
Feels like I've been awakened
Every rule I had you breaking
The risk that I'm taking
I'm never gonna shut you out
Everywhere I'm looking now
I'm surrounded by your embrace
Baby I can see your halo
You know you're my saving grace
You're everything I need and more
It's written all over your face
Baby I can feel your halo
Pray it won't fade away
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
Halo, halo
Everywhere I'm looking now
I'm surrounded by your embrace
Baby I can see your halo
You know you're my saving grace
You're everything I need and more
It's written all over your face
Baby I can feel your halo
Pray it won't fade away
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
I can feel your halo halo halo
I can see your halo halo halo
Eu ainda consegurei sentir o halo de alguém que me faça vibrar de emoção...
quarta-feira, 31 de março de 2010
De Fagner a Milton.... tributos a minha dor e solidão....Quem sabe porque estou estou assim nem vai ler.
Pensamento
Fagner
Perdido em meus pensamentos
É que me encontro tão só
Na boca um sabor de veneno
No peito aquele nó
Esperando em qualquer caminho
Um dia te encontrar
Peito a peito, frente a frente
Meu amor o que é que há
Ah! meu amor a vida pode se acabar
Que queres mais que eu faça
Além do grito no ar
A ilusão do tempo a esperar por mim
Te quero o tempo todo perto de mim
Não sei o que é de direito
Mas tudo em mim é você
Quando é pra falar de amor
Já começo a enlouquecer
Ai coração faz o teu fogo arder
Naquele abraço amigo
Na noite que vai chover
Não sei o que é de direito
Mas tudo em mim é você
Quando é pra falar de amor
Já começo a enlouquecer
Ai coração faz o teu fogo arder
Naquele abraço amigo
Na noite que vai chover
Naquele abraço amigo
Travessia
Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant
Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Obrigada por tudo de bom e de ruim que você me deu...
Me ensina a ser mais forte e a aprender a viver sem você.
Estou bem, fique certo. Contudo, as marcas e cicatrizes servem para me lembrar que saí vencedora e ainda tenho forças para continuar a lutar por algo de bom, realmente enriquecedor em minha vida.
Seu amor é como folha de papel, caiu no fogo e se queimou...Arranje um outro amor, pois o meu...Acabou!
Suri.
Fagner
Perdido em meus pensamentos
É que me encontro tão só
Na boca um sabor de veneno
No peito aquele nó
Esperando em qualquer caminho
Um dia te encontrar
Peito a peito, frente a frente
Meu amor o que é que há
Ah! meu amor a vida pode se acabar
Que queres mais que eu faça
Além do grito no ar
A ilusão do tempo a esperar por mim
Te quero o tempo todo perto de mim
Não sei o que é de direito
Mas tudo em mim é você
Quando é pra falar de amor
Já começo a enlouquecer
Ai coração faz o teu fogo arder
Naquele abraço amigo
Na noite que vai chover
Não sei o que é de direito
Mas tudo em mim é você
Quando é pra falar de amor
Já começo a enlouquecer
Ai coração faz o teu fogo arder
Naquele abraço amigo
Na noite que vai chover
Naquele abraço amigo
Travessia
Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant
Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Obrigada por tudo de bom e de ruim que você me deu...
Me ensina a ser mais forte e a aprender a viver sem você.
Estou bem, fique certo. Contudo, as marcas e cicatrizes servem para me lembrar que saí vencedora e ainda tenho forças para continuar a lutar por algo de bom, realmente enriquecedor em minha vida.
Seu amor é como folha de papel, caiu no fogo e se queimou...Arranje um outro amor, pois o meu...Acabou!
Suri.
Amar Alguém
Amar a alguém não é apenas ter a quem se amar... É sentir esse alguém que mesmo vivendo longe dos nossos olhos, está tão dentro de nosso peito.
É sentir a cada momento, um quê de emoção, comoção, edificação, surrealismo, utupia, misturar tudo isso e se saber que esta pessoa não sabe que você está suspirando quando o sol se põe, está sem dormir quando a madrugada chega, mesmo se sabe, finge não saber...
E daí? Ela foi consultada se gostaria de ser cortejada por você? Alguma vez, você lhe perguntou:
-Ei você, pessoinha! Quer entrar na minha vida, ser parte ativa de mim?
Mas é claro que não! Afinal por acaso, há amor por encomenda? Pode-se adiconar o "pó mágico" nos olhos de quem gostaríamos que nos visse com olhos brilhantes e com a magia do amor?!?
Meninos e meninas, caiam na real... Isto é impossível!
Depois vem aquela velha chatice de sempre: estou apaixonado!
E daí, lhe pergunto novamente, que é que essa pessoa tem haver com seus sentimentos mal resolvidos? Cobrar? Mas, cobrar o quê? De quem? Cobre-se! Não busque no outro o que habita em você.
Quer amar, ame.
Não quer amar, não ame e pronto!
Viva e deixe viver... morra se quiser,mas não mate ninguém com suas cobranças, delírios e queixumes. Chega!
Temos que reaprender a "ser" e não a "ter".
Nada possuímos nesta vida, porque dela nada levaremos, a não ser o desejo de continuarmos vivos dentro de alguém querido, um bom amigo ou uma amiga de verdade...
Eu andava perdida em meus pensamentos certo dia e me dei conta de quanto eu perco na minha vida, preocupada com a dor que senti e o medo de sentir de novo... Porém, se analizarmos friamente, estou ainda sentindo a mesma dor, só que por antecipação.
Suri.
É sentir a cada momento, um quê de emoção, comoção, edificação, surrealismo, utupia, misturar tudo isso e se saber que esta pessoa não sabe que você está suspirando quando o sol se põe, está sem dormir quando a madrugada chega, mesmo se sabe, finge não saber...
E daí? Ela foi consultada se gostaria de ser cortejada por você? Alguma vez, você lhe perguntou:
-Ei você, pessoinha! Quer entrar na minha vida, ser parte ativa de mim?
Mas é claro que não! Afinal por acaso, há amor por encomenda? Pode-se adiconar o "pó mágico" nos olhos de quem gostaríamos que nos visse com olhos brilhantes e com a magia do amor?!?
Meninos e meninas, caiam na real... Isto é impossível!
Depois vem aquela velha chatice de sempre: estou apaixonado!
E daí, lhe pergunto novamente, que é que essa pessoa tem haver com seus sentimentos mal resolvidos? Cobrar? Mas, cobrar o quê? De quem? Cobre-se! Não busque no outro o que habita em você.
Quer amar, ame.
Não quer amar, não ame e pronto!
Viva e deixe viver... morra se quiser,mas não mate ninguém com suas cobranças, delírios e queixumes. Chega!
Temos que reaprender a "ser" e não a "ter".
Nada possuímos nesta vida, porque dela nada levaremos, a não ser o desejo de continuarmos vivos dentro de alguém querido, um bom amigo ou uma amiga de verdade...
Eu andava perdida em meus pensamentos certo dia e me dei conta de quanto eu perco na minha vida, preocupada com a dor que senti e o medo de sentir de novo... Porém, se analizarmos friamente, estou ainda sentindo a mesma dor, só que por antecipação.
Suri.
Ao Cavelheiro Romântico- meu grande amigo poeta de Afogados da Ingazeira.
Tenho um sábio e jovem amigo, que cada dia me surpreende em me reconhecer melhor do que eu mesma.
Ele é de um senso crítico apurado, perspicaz, sincero até ao extremo...
Mas puro, nobre e um ser humano maravilhoso que me abre as janelas da alma com suas palavras que saem em tom de brincadeira ou não...
Contudo é a melhor pessoa que conheci até hoje, tem a coragem de me criticar na hora certa, abordando o tema "casquinha do dó-dói" na forma justa- leia-se aqui, que às vezes não aceito enxergar na hora, mas é só por fazer charme! No fundo, ele sempre tem razão, sou eu mesma quem me derrubo sozinha! Vejam, só do que ele foi capaz! Estou adimitindo um ponto fraco!
Esse cavalheiro romântico que se entitula assim mesmo "romântico" não tem reservas de si mesmo e nem com ninguém, é discreto, mas sabe temperar a amizade com gotas de felicidade e solidariedade, com olhos infantis, mas com a maturidade de um grande e humilde homem. Jovem, mas maduro!
Ele me mostra a cada momento, que devo sim viver a vida como ela é, como ela se mostrar para mim e como ela deve ser.
Com ele aprendo a cada instante, o sabor das traquinagens que nunca fiz- Mas veladamente, vivia querendo fazê-las!
Aprendo que eu sou a única pessoa que posso mudar e dar rumo ao que penso e acho da minha vida e ninguém tem nada a ver com isso, desde que eu seja fiel a mim mesma, não use meios excusos para exercer o direito de ser eu mesma e acima de tudo, está me ensinando a me amar, me aceitar como sou e a administar meus sentimentos, angústias e alegrias de forma leve e jovial.
Ele me devolveu o sabor da juventude através da sua amizade, do sorriso sempre maroto, mesmo com olhos de profunda tristeza, secretamente escondidos por esse mesmo sorriso; Quando seu peito arde e sua cabeça gira com tantos engasgos e ele mesmo quando silenciosamente grita ao mundo que ele também sofre... muitos não notam, então com muita classe, dignidade e aceitação, habilidade e acima de tudo, muita honra consegue dar a sua volta por cima e se sair vitorioso! Sempre que possível, pois nasceu vencedor, nasceu para brilhar no coração de Afogados da Ingazeira.
Meu menino poeta, meu amigo de todas as horas, ganhou minha confiança com uma baita bronca que me passou, mas se ele tivesse naquela hora sido omisso ou mesmo hipócrita e me acariciado ao ego, jamais essas palavras hoje saíriam de minha mente e seriam postadas nesta página.
Destesto gente falsa e bajuladora que fala de mim pelas costa! Que me torturem com a mais rude das verdades, mas jamais me iludão com a mais suave e doce mentira.
A você meu "Cavalheiro de Armadura Reluzente" - Salve Jorge! Seu Santo Protetor! E que digam os Caetaneadores:
"Vestido com as roupas e armas de Jorge!"
Suri.
Ele é de um senso crítico apurado, perspicaz, sincero até ao extremo...
Mas puro, nobre e um ser humano maravilhoso que me abre as janelas da alma com suas palavras que saem em tom de brincadeira ou não...
Contudo é a melhor pessoa que conheci até hoje, tem a coragem de me criticar na hora certa, abordando o tema "casquinha do dó-dói" na forma justa- leia-se aqui, que às vezes não aceito enxergar na hora, mas é só por fazer charme! No fundo, ele sempre tem razão, sou eu mesma quem me derrubo sozinha! Vejam, só do que ele foi capaz! Estou adimitindo um ponto fraco!
Esse cavalheiro romântico que se entitula assim mesmo "romântico" não tem reservas de si mesmo e nem com ninguém, é discreto, mas sabe temperar a amizade com gotas de felicidade e solidariedade, com olhos infantis, mas com a maturidade de um grande e humilde homem. Jovem, mas maduro!
Ele me mostra a cada momento, que devo sim viver a vida como ela é, como ela se mostrar para mim e como ela deve ser.
Com ele aprendo a cada instante, o sabor das traquinagens que nunca fiz- Mas veladamente, vivia querendo fazê-las!
Aprendo que eu sou a única pessoa que posso mudar e dar rumo ao que penso e acho da minha vida e ninguém tem nada a ver com isso, desde que eu seja fiel a mim mesma, não use meios excusos para exercer o direito de ser eu mesma e acima de tudo, está me ensinando a me amar, me aceitar como sou e a administar meus sentimentos, angústias e alegrias de forma leve e jovial.
Ele me devolveu o sabor da juventude através da sua amizade, do sorriso sempre maroto, mesmo com olhos de profunda tristeza, secretamente escondidos por esse mesmo sorriso; Quando seu peito arde e sua cabeça gira com tantos engasgos e ele mesmo quando silenciosamente grita ao mundo que ele também sofre... muitos não notam, então com muita classe, dignidade e aceitação, habilidade e acima de tudo, muita honra consegue dar a sua volta por cima e se sair vitorioso! Sempre que possível, pois nasceu vencedor, nasceu para brilhar no coração de Afogados da Ingazeira.
Meu menino poeta, meu amigo de todas as horas, ganhou minha confiança com uma baita bronca que me passou, mas se ele tivesse naquela hora sido omisso ou mesmo hipócrita e me acariciado ao ego, jamais essas palavras hoje saíriam de minha mente e seriam postadas nesta página.
Destesto gente falsa e bajuladora que fala de mim pelas costa! Que me torturem com a mais rude das verdades, mas jamais me iludão com a mais suave e doce mentira.
A você meu "Cavalheiro de Armadura Reluzente" - Salve Jorge! Seu Santo Protetor! E que digam os Caetaneadores:
"Vestido com as roupas e armas de Jorge!"
Suri.
quarta-feira, 24 de março de 2010
A DOR E O DESEJO
Sobre a dor:
-Definição:
...Sentimento subjetivo relacionado a sensação de mal-estar físico, psiquico ou ambos.
Doer por dentro é esconder dos outros o que lhe vai à alma. São escolhas que pareciam serem as melhores de todas as escolhas que poderia ter-se feito; mas não foi.
Doer por fora é externar as lágrimas que regam as suas lamentações internas, é conviver com sua bendita(?) escolha e levar a cabo em nome de quê? de quem? por quê e para quê?
Vale a pena? Talvez...Desculpas nunca irão faltar, isso é fato.
Inúmeras vezes e quase sempre, somos obrigados a levar adiante essa dor, seja ela opcional, vocacional, sei lá qual mais "al".
Teimosia, orgulho, medo.
Por quê tem que ser assim? onde está escrito que se pode mudar o começo e recomeçar do zero? Um livro, uma texto? não... Está em você, em sua negação e covardia, na ilusão de que tudo acaba bem e se ainda não está bem é porque ainda não acabou... Ledo engano, que pena você pensar que as pessoas mudam... aliás, mudar elas mudam, mudam com o que você lhes dá como ferramenta: sua omissão. Mas, se quiser você pode mudar o final... é só tentar!
Daí o príncipe ou princesa vira um belo sapão ou uma gigantesca rã feiosos e chatos!
Mas, fomos nós quem escolhemos; então por que mudar, para que?
Viva sua vidinha de frustações, auto punição, auto depreciação, culpe o outro pela sua falta de coragem!
Isso, se esconda atraz dos seus sonhos e fuja, fuja muito rápido de você... você pode se reencontar e querer mudar... E aí? como é que fica? Todo mundo lhe crucifica, afinal você tinha "tudo" para ser feliz(será?)!
Agora falando em amor, DESEJO:
-O que você deseja para si mesmo?
-É essa a realidade da sua escolha ou é seu desejo que tudo dê certo? Mesmo sabedo que papai noel é lenda... Fadas e Elfos não...
Para onde caminha aquele homem que sonhava alto, ou a mulher que sorria e se destacava nas festinhas?
Onde foram parar os "Reis da Formatura"?
Provavelmente entre as fraldas sujas, as contas para pagar, as rusgas diárias descontadas em cima daquilo que um dia já foi desejado por ambos. Que pena... o sonho acabou...
Mas o que é o DESEJO?
É estar feliz, soletrar com todas as suas forças e a plenos plumões:
-Eu amo minha vida!
Desejo é estar se sentindo vivo, fazendo nada, fazendo tudo...
Desejar é realizar o que se planejou durante uma existência de sonhos na juventude.
É aquela rosa colhida no jardim do vizinho, quase sorrateiramente...
Está no suor após o êxtase depois do amor feito por amor.
Amor é estar de bem com a vida e querer sempre estar de romance com você mesmo, liberar a fúria de paixões ardentes, sem lugar e nem hora ou dia marcados...
É o beijo "roubado" consentido pelos dois, momentos criados para a fuga perfeita, como se fazia antes, saindo de fininho, escondidinho da turma... risos! muitos risos!
É desejar estar naquele boteco sem graça e achar que tudo ali está maravilhoso, estamos à sós, enfim!
É aquele filminho "água com açúcar", no sofá da sala, pedindo a Deus( ou sabe-se lá!) para que ninguém venha, pois a sessão da tarde "esquenta" nas tardes de chuva por baixo do endredom onde só cabe nós dois...
E os beijos? onde foram parar os beijos? as carícias - e que carícias! Que eram uma constante?
A mesmice do dia-a-dia levou? ou você os entregou de bandeja à pura sorte( ou falta dela) e culpa o destino, a rotina, etc,etc, etc... Não está tudo dentro da sua cabeça ou mesmo já está fora dela.
Faça diferente! Reinvente o desejo, fuja da dor! Deseje! Ame!
Nada vale a pena, ninguém vale a pena se não for por amor mútuo...
Casamento, filhos, convivência a dois é mais uma das muitas convenções criadas por pessoas comodistas, que engordam seus corpos que um dia foram fonte de desejo ardente e hoje se resume em :
-Você pega a menina na condução ou quer que eu vá?
Quando na realidade, você quer mandar tudo às favas! tomar um banho MA-RA-VI-LHO-SO - Se possível à dois! com muitos óleos aromáicos, velas, incesos ou nada disso, só a ága escorrendo como o viço queescorre em seu corpo...
Ou outro balde de água fria naquela perguntinha chata:
-Você quer o que para jantar?
Quando na verdade temos é vontade de tomar aquele mesmo banho de "estrela" e nos benzuntar de cremes maravilhosos e fazer muito amor gostoso e depois comer aquele sandubinha que comíamos antes ou sair pura e simplesmente para respirar ar puro e olhar o céu, ver a Lua, a chuva, correr na chuva sim, porque não? beijos molhados pela chuva que cai, cúmplice por grudar aquela camiseta branca e transparente, aumentando o desejo que exala pelos poros de ambos e sorrir... sorrir do que nem tem graça, mas que tem uma graça!
Encarar aquele "sopão de saquinho" feito (muito mal feito), mas que faz parte do "ritual" para comê-lo com aquele pãozinho de ontem- ninguém se lembrou de ir à padaria, já é quase meia noite!
Então se sorri e se come assim mesmo ou nem se come...
Voltamos ao desejo ardente de ir para a cama, o balcão de pratos, a mesa da sala, o sofá, o banheiro, o terraço, o quintal, a rede... Qualquer lugar onde caiba apenas nós dois...
Para que sentir tanta dor? quando temos em nossas mãos a chave da felicidade?
Temos desejo!
Então lute! saia dessa vida! Viva intensamente, aqui, agora e crie seu Universo Alternativo, pois..."faça o que quiser, pois está tudo dentro da lei...da lei...Viva a Sociedade Alternativa!
Essa dissertação, você que está lendo já sabe para quem é...
Dizem que promessa não é dívida, é dúvida...
Mas eu costumo cumprir o que prometo... Sempre!
Desejo que você deseje ser feliz ou pelo menos tente!
Suri.
-Definição:
...Sentimento subjetivo relacionado a sensação de mal-estar físico, psiquico ou ambos.
Doer por dentro é esconder dos outros o que lhe vai à alma. São escolhas que pareciam serem as melhores de todas as escolhas que poderia ter-se feito; mas não foi.
Doer por fora é externar as lágrimas que regam as suas lamentações internas, é conviver com sua bendita(?) escolha e levar a cabo em nome de quê? de quem? por quê e para quê?
Vale a pena? Talvez...Desculpas nunca irão faltar, isso é fato.
Inúmeras vezes e quase sempre, somos obrigados a levar adiante essa dor, seja ela opcional, vocacional, sei lá qual mais "al".
Teimosia, orgulho, medo.
Por quê tem que ser assim? onde está escrito que se pode mudar o começo e recomeçar do zero? Um livro, uma texto? não... Está em você, em sua negação e covardia, na ilusão de que tudo acaba bem e se ainda não está bem é porque ainda não acabou... Ledo engano, que pena você pensar que as pessoas mudam... aliás, mudar elas mudam, mudam com o que você lhes dá como ferramenta: sua omissão. Mas, se quiser você pode mudar o final... é só tentar!
Daí o príncipe ou princesa vira um belo sapão ou uma gigantesca rã feiosos e chatos!
Mas, fomos nós quem escolhemos; então por que mudar, para que?
Viva sua vidinha de frustações, auto punição, auto depreciação, culpe o outro pela sua falta de coragem!
Isso, se esconda atraz dos seus sonhos e fuja, fuja muito rápido de você... você pode se reencontar e querer mudar... E aí? como é que fica? Todo mundo lhe crucifica, afinal você tinha "tudo" para ser feliz(será?)!
Agora falando em amor, DESEJO:
-O que você deseja para si mesmo?
-É essa a realidade da sua escolha ou é seu desejo que tudo dê certo? Mesmo sabedo que papai noel é lenda... Fadas e Elfos não...
Para onde caminha aquele homem que sonhava alto, ou a mulher que sorria e se destacava nas festinhas?
Onde foram parar os "Reis da Formatura"?
Provavelmente entre as fraldas sujas, as contas para pagar, as rusgas diárias descontadas em cima daquilo que um dia já foi desejado por ambos. Que pena... o sonho acabou...
Mas o que é o DESEJO?
É estar feliz, soletrar com todas as suas forças e a plenos plumões:
-Eu amo minha vida!
Desejo é estar se sentindo vivo, fazendo nada, fazendo tudo...
Desejar é realizar o que se planejou durante uma existência de sonhos na juventude.
É aquela rosa colhida no jardim do vizinho, quase sorrateiramente...
Está no suor após o êxtase depois do amor feito por amor.
Amor é estar de bem com a vida e querer sempre estar de romance com você mesmo, liberar a fúria de paixões ardentes, sem lugar e nem hora ou dia marcados...
É o beijo "roubado" consentido pelos dois, momentos criados para a fuga perfeita, como se fazia antes, saindo de fininho, escondidinho da turma... risos! muitos risos!
É desejar estar naquele boteco sem graça e achar que tudo ali está maravilhoso, estamos à sós, enfim!
É aquele filminho "água com açúcar", no sofá da sala, pedindo a Deus( ou sabe-se lá!) para que ninguém venha, pois a sessão da tarde "esquenta" nas tardes de chuva por baixo do endredom onde só cabe nós dois...
E os beijos? onde foram parar os beijos? as carícias - e que carícias! Que eram uma constante?
A mesmice do dia-a-dia levou? ou você os entregou de bandeja à pura sorte( ou falta dela) e culpa o destino, a rotina, etc,etc, etc... Não está tudo dentro da sua cabeça ou mesmo já está fora dela.
Faça diferente! Reinvente o desejo, fuja da dor! Deseje! Ame!
Nada vale a pena, ninguém vale a pena se não for por amor mútuo...
Casamento, filhos, convivência a dois é mais uma das muitas convenções criadas por pessoas comodistas, que engordam seus corpos que um dia foram fonte de desejo ardente e hoje se resume em :
-Você pega a menina na condução ou quer que eu vá?
Quando na realidade, você quer mandar tudo às favas! tomar um banho MA-RA-VI-LHO-SO - Se possível à dois! com muitos óleos aromáicos, velas, incesos ou nada disso, só a ága escorrendo como o viço queescorre em seu corpo...
Ou outro balde de água fria naquela perguntinha chata:
-Você quer o que para jantar?
Quando na verdade temos é vontade de tomar aquele mesmo banho de "estrela" e nos benzuntar de cremes maravilhosos e fazer muito amor gostoso e depois comer aquele sandubinha que comíamos antes ou sair pura e simplesmente para respirar ar puro e olhar o céu, ver a Lua, a chuva, correr na chuva sim, porque não? beijos molhados pela chuva que cai, cúmplice por grudar aquela camiseta branca e transparente, aumentando o desejo que exala pelos poros de ambos e sorrir... sorrir do que nem tem graça, mas que tem uma graça!
Encarar aquele "sopão de saquinho" feito (muito mal feito), mas que faz parte do "ritual" para comê-lo com aquele pãozinho de ontem- ninguém se lembrou de ir à padaria, já é quase meia noite!
Então se sorri e se come assim mesmo ou nem se come...
Voltamos ao desejo ardente de ir para a cama, o balcão de pratos, a mesa da sala, o sofá, o banheiro, o terraço, o quintal, a rede... Qualquer lugar onde caiba apenas nós dois...
Para que sentir tanta dor? quando temos em nossas mãos a chave da felicidade?
Temos desejo!
Então lute! saia dessa vida! Viva intensamente, aqui, agora e crie seu Universo Alternativo, pois..."faça o que quiser, pois está tudo dentro da lei...da lei...Viva a Sociedade Alternativa!
Essa dissertação, você que está lendo já sabe para quem é...
Dizem que promessa não é dívida, é dúvida...
Mas eu costumo cumprir o que prometo... Sempre!
Desejo que você deseje ser feliz ou pelo menos tente!
Suri.
terça-feira, 23 de março de 2010
Amor- por Clarisse Lispector
Último texto
Amor
Clarice Lispector
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.
O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.
O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.
Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.
Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.
A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.
O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.
Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.
Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.
Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.
Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.
A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.
De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.
Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.
Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.
Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.
Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.
As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.
Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.
Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.
Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o.
Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.
Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar.
Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.
Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.
Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.
Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.
Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.
— O que foi?! gritou vibrando toda.
Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:
— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.
Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.
— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.
— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.
Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.
Texto extraído no livro “Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 19, incluído entre “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, seleção de Ítalo Moriconi.
*Aqui se define para mim a alma de uma mulher que vive uma vida que não é sua, mas que por escolha- feliz ou infeliz- precisa continuar vivendo... Como eu vivi...Mas, não quero mais isso, não quero ser uma "Ana" eu quero mais!
Não quero pensar na juventude desperdiçada e nem no "cego" em que me tornei, mascando um chicle para poder sorrir ou não...
Quero o cheiro das flores e frutos, não quero estouros de fogão... Quero estourar o fogão!
Nada de maridos, nem de filhos perfeitos, quero o mundo real, andar de cabeça erguida e re-escolher minha vida, quero ser feliz! De verdade!
Não serei a sombra de uma "felicidade melada de gemas de ovos", serei eu, serei aquela que grita na condução da minha vida, que muda os "móveis" da minha alma e que não precisa se refugiar em uma vida mais ou menos para se sentir gente de verdade.
Buscarei a brisa da noite em mim, a luz da lua e a liberdade das ruas...
Suri.
Eu não serei "Ana"!
Amor
Clarice Lispector
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.
O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.
O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.
Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.
Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.
A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.
O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.
Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.
Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.
Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.
Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.
A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.
De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.
Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.
Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.
Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.
Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.
As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.
Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.
Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.
Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o.
Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.
Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar.
Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.
Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.
Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.
Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.
Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.
— O que foi?! gritou vibrando toda.
Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:
— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.
Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.
— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.
— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.
Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.
Texto extraído no livro “Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 19, incluído entre “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, seleção de Ítalo Moriconi.
*Aqui se define para mim a alma de uma mulher que vive uma vida que não é sua, mas que por escolha- feliz ou infeliz- precisa continuar vivendo... Como eu vivi...Mas, não quero mais isso, não quero ser uma "Ana" eu quero mais!
Não quero pensar na juventude desperdiçada e nem no "cego" em que me tornei, mascando um chicle para poder sorrir ou não...
Quero o cheiro das flores e frutos, não quero estouros de fogão... Quero estourar o fogão!
Nada de maridos, nem de filhos perfeitos, quero o mundo real, andar de cabeça erguida e re-escolher minha vida, quero ser feliz! De verdade!
Não serei a sombra de uma "felicidade melada de gemas de ovos", serei eu, serei aquela que grita na condução da minha vida, que muda os "móveis" da minha alma e que não precisa se refugiar em uma vida mais ou menos para se sentir gente de verdade.
Buscarei a brisa da noite em mim, a luz da lua e a liberdade das ruas...
Suri.
Eu não serei "Ana"!
Escrever para manter-me VIVA!-Clarisse Lispetor
-Entrevista do J.C com Clarisse em 1976.
J.C. "— Por que você escreve?
C.L. "— Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?"
J.C. "— Por que bebo água? Porque tenho sede."
C.L. "— Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva."...
----Palavras voam, a escrita fica para sempre...
Escrever é despir-me dos sentimentos da alma... É expor minha essência sem medos de crítcas, afinal, só as árvores com frutos levam pedradas, pois todos querem sentir o sabor doce de seus frutos, ou indo mais adiante, apenas me mostrar como sou: humana...
Escrevo para continuar viva, sem meus textos quem seria eu? Vulto icógnito de uma vida sem motivos, sem desejos, sem a ansiedade de ser livre e poder viajar em meus mais profundos delírios e realidades?
Escrever é matar a minha sede de viver e libertar minha alma que vive cativa em um mundo interior precisando de ar, de se alimentar do grito que morre dia após dia abafado em minhas entranhas e precisa sair, fugir... Sim, eu preciso disso.
É dar mostras de quem eu sou e que posssuo uma alma, sou coração, sou consciência viva e tenho o direito sim de dizer o que penso sem reservas, sem medos dos meus inúmeros porões onde habitam meus fantasmas, alucinações, as minhas angústias e minhas poucas alegrias e fantasias - as mais secretas, as mais descaradas, mais puras, mais profanas, qe vvem dentro da santa e da mundana que dualmente dividem meu corpo, sem pedir licença, apenas me martilizando nas noites mal dormidas, nas horas em que desejo fugir de mim, sair desse corpo, desse fardo que carrego.
Sou reflexo de quem nunca pude ser e desejo de alguém que poderia ter dado certo, um projeto? talvez... Mas grandes obras se iniciam neles... Projetos.
Projetar-me no mundo, viver a vida, realizar sonhos castrados de uma juventude desperdiçada com sonhos... Afinal, viver não é apenas sonhar, a palavra VIDA diz tudo: é arriscar-se, é fazer um body jumping alucinado, psicodélico e sentir o sabor da adrenalina correndo em nossas veias, é sorrir, é chorar, chorar de sorrir , sorrir até chorar, é gritar se necessário, é conter-se, é perder a pôse e jogar tudo para alto, mandar todos os pudores hipócritas criados por pessoas hipócritas de uma sociedade totalmente hipócrita, tudo isso às favas! É ser utópica, realista, "enfiar o pé na jaca" e o dedo na garganta e colocar para fora aquilo que não se digeriu - a fúria de anos de castração, de ser a "garotinha boa", que é torturada pela garotinha má(escondida de mim mesma e morre de rir!).
Quando solto meus dedos colocando em palavras aquilo que me vem de dentro, sinto-me feliz, porque isso ninguém, absolutamente ninguém poderá me tirar... E, olha que já me levaram tudo, mas nunca levaram meus pensamentos ( e nem tentem!).
Viver é mais que estar viva, é sentir-se viva e isso começo a fazer à partir de agora; minhas palavras representaram minha alma, entã despudoradamente eu colocarei aqui, em qualquer outro lugar, tudo que fui, mas que nunca existiu.
Hoje decidi continuar a viver, decidi continuar a escrever e sobreviverei a mim mesma, travarei uma luta incansável com a minha auto-censura... Ei! por falar nisso, já não acabou a censura? Em que mundo desejo viver? No limbo dos pensamentos de uma garotinha assustada ou de uma mulher que em pleno auge da vida tenta se aceitar?
Opto por ser mulher, porque gosto de ser livre e ser mulher, gosto do vento nos cabelos e na pele o calor do sol, da chuva que cai no final da tarde e do pôr do sol que vem sereno me dando a certeza que amanhã será outro dia.
Suri.
J.C. "— Por que você escreve?
C.L. "— Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?"
J.C. "— Por que bebo água? Porque tenho sede."
C.L. "— Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva."...
----Palavras voam, a escrita fica para sempre...
Escrever é despir-me dos sentimentos da alma... É expor minha essência sem medos de crítcas, afinal, só as árvores com frutos levam pedradas, pois todos querem sentir o sabor doce de seus frutos, ou indo mais adiante, apenas me mostrar como sou: humana...
Escrevo para continuar viva, sem meus textos quem seria eu? Vulto icógnito de uma vida sem motivos, sem desejos, sem a ansiedade de ser livre e poder viajar em meus mais profundos delírios e realidades?
Escrever é matar a minha sede de viver e libertar minha alma que vive cativa em um mundo interior precisando de ar, de se alimentar do grito que morre dia após dia abafado em minhas entranhas e precisa sair, fugir... Sim, eu preciso disso.
É dar mostras de quem eu sou e que posssuo uma alma, sou coração, sou consciência viva e tenho o direito sim de dizer o que penso sem reservas, sem medos dos meus inúmeros porões onde habitam meus fantasmas, alucinações, as minhas angústias e minhas poucas alegrias e fantasias - as mais secretas, as mais descaradas, mais puras, mais profanas, qe vvem dentro da santa e da mundana que dualmente dividem meu corpo, sem pedir licença, apenas me martilizando nas noites mal dormidas, nas horas em que desejo fugir de mim, sair desse corpo, desse fardo que carrego.
Sou reflexo de quem nunca pude ser e desejo de alguém que poderia ter dado certo, um projeto? talvez... Mas grandes obras se iniciam neles... Projetos.
Projetar-me no mundo, viver a vida, realizar sonhos castrados de uma juventude desperdiçada com sonhos... Afinal, viver não é apenas sonhar, a palavra VIDA diz tudo: é arriscar-se, é fazer um body jumping alucinado, psicodélico e sentir o sabor da adrenalina correndo em nossas veias, é sorrir, é chorar, chorar de sorrir , sorrir até chorar, é gritar se necessário, é conter-se, é perder a pôse e jogar tudo para alto, mandar todos os pudores hipócritas criados por pessoas hipócritas de uma sociedade totalmente hipócrita, tudo isso às favas! É ser utópica, realista, "enfiar o pé na jaca" e o dedo na garganta e colocar para fora aquilo que não se digeriu - a fúria de anos de castração, de ser a "garotinha boa", que é torturada pela garotinha má(escondida de mim mesma e morre de rir!).
Quando solto meus dedos colocando em palavras aquilo que me vem de dentro, sinto-me feliz, porque isso ninguém, absolutamente ninguém poderá me tirar... E, olha que já me levaram tudo, mas nunca levaram meus pensamentos ( e nem tentem!).
Viver é mais que estar viva, é sentir-se viva e isso começo a fazer à partir de agora; minhas palavras representaram minha alma, entã despudoradamente eu colocarei aqui, em qualquer outro lugar, tudo que fui, mas que nunca existiu.
Hoje decidi continuar a viver, decidi continuar a escrever e sobreviverei a mim mesma, travarei uma luta incansável com a minha auto-censura... Ei! por falar nisso, já não acabou a censura? Em que mundo desejo viver? No limbo dos pensamentos de uma garotinha assustada ou de uma mulher que em pleno auge da vida tenta se aceitar?
Opto por ser mulher, porque gosto de ser livre e ser mulher, gosto do vento nos cabelos e na pele o calor do sol, da chuva que cai no final da tarde e do pôr do sol que vem sereno me dando a certeza que amanhã será outro dia.
Suri.
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